Para entender melhor sobre este universo, vamos começar desvendando o uso do termo “unicórnio”. Sabemos que unicórnios são criaturas mitológicas consideradas raras e mágicas; mas o que eles teriam a ver com tecnologia, startups e mercado?
Em 2013, a investidora e fundadora da Cowboy Ventures, Aileen Lee, empregou pela primeira vez seu uso, para se referir às 39 startups com valorização de mais de US$ 1 bilhão. Com isso, Lee buscava demonstrar a dificuldade de uma empresa em alcançar esse porte.
Na época em que o termo surgiu, sua definição era mais restrita, limitando-se a empresas de software, fundadas após 2003, que atingiram valor superior a US$ 1bi enquanto tinham capital fechado. Atualmente, porém, essa delimitação vem sendo discutida.
Ao longo deste artigo você irá conhecer melhor sobre o universo das startups unicórnios, incluindo o posicionamento do Brasil e as previsões diante dos novos desafios do cenário atual.
Entenda o que é IPO
Conforme dissemos anteriormente, em linhas gerais, considera-se unicórnio a startup que atinge o valuation de US$ 1bi somente com “capital fechado”. Esse tipo de empresa costuma ter poucos acionistas, uma vez que suas ações não estão à venda em bolsas de valores, ou abertas a ofertas públicas.
Assim que a empresa abre seu capital para investidores, ou seja, vende ações na bolsa e recebe investimentos externos pela primeira vez, caracteriza-se o que chamamos de IPO – Initial Public Offering, ou Oferta Pública Inicial.
E por que abrir o capital? Em geral, a finalidade é de captar recursos. Os acionistas injetam valores em troca de participação na empresa. Por vezes, essa é a única maneira de obter dinheiro suficiente para uma grande expansão.
No Brasil, PagSeguro, Stone e Arco são startups que atingiram o marco de US$ 1bi com capital aberto na bolsa de valores americana.
Startups? O que é isso?
Até aqui, já usamos esse termo diversas vezes, mas, afinal, o que é uma startup?
Criado por volta dos anos 90, nos Estados Unidos, esse nome é dado a empresas que oferecem soluções inovadoras, geralmente de base tecnológica, de característica disruptiva, com crescimento rápido e escalável, que trabalham em um cenário incerto e pouco explorado.
São o oposto das empresas tradicionais, que costumam atuar em um mercado sólido, já estabelecido, oferecendo produtos ou serviços a um público já conhecido.
Quantos unicórnios existem? Tem algum no Brasil?
De acordo com a CBInsights, existem 474 startups unicórnios, presentes em cerca de 30 países, concentrando-se principalmente nos Estados Unidos, com quase 50% delas, e na China, com cerca de 25%.
O Brasil vem conquistando espaço nessa lista, sendo que, em pouco mais de dois anos, originou 11 unicórnios, o que lhe concedeu um lugar no top 10 mundial. Além disso, no ano de 2019, foi o terceiro país a produzir mais unicórnios, com cinco no total.
Segundo dados da Abstartups (Associação Brasileira de Startups), 22 startups conseguiram alcançar o valuation de US$ 1 bilhão com capital fechado. Abaixo você confere as unicórnios nacionais:
99
Fundada em 2012 por Paulo Veras, Ariel Lambrecht e Renato Freitas, foi ela quem inaugurou as startups unicórnios no Brasil, em janeiro de 2018, quando foi adquirida pelo grupo chinês Didi Chuxing, por US$ 1 bilhão. A 99 surgiu como uma solução na área do transporte privado urbano por aplicativo.
Nubank
Essa startup pioneira no segmento de serviços financeiros no Brasil tornou-se unicórnio em março de 2018, após 5 anos de sua criação, atuando como operadora de cartões de crédito e fintech. Em julho de 2019, se tornou o primeiro decacórnio do país, avaliado em mais de US$ 10 bilhões.
Arco Educação
Fundada em 2004, a cearense Arco Educação surgiu com a proposta de revolucionar o aprendizado dos estudantes, promovendo um ensino de qualidade e escalável, a partir de um sistema educacional. Em setembro de 2018 abriu seu capital na Nasdaq, captando US$ 194 milhões. Atualmente, detém o Sistema Positivo de Educação.
iFood/Movile
Aqui temos um caso 2 em 1, uma vez que o iFood, em 2014, foi adquirido pela holding Movile. Em novembro de 2018, a plataforma de delivery de comida recebeu um investimento de US$ 500 milhões, tornando-se um unicórnio e ainda fazendo com que a Movile também conquistasse o título.
Ebanx
Após 7 anos de sua criação, a Ebanx levou o primeiro título de unicórnio da região sul, em outubro de 2019. A empresa atua no processamento de pagamentos, permitindo que usuários latino-americanos façam compras de empresas estrangeiras, como o Spotify e Airbnb, usando moeda local.
Quinto Andar
A empresa surgiu em 2013, e entrega soluções no mercado de imóveis, a princípio para aluguel, intermediando a relação entre proprietários e inquilinos, e expandindo para a venda de imóveis e reformas de apartamento. Em setembro de 2019 tornou-se unicórnio, após receber US$ 250 milhões do Softbank.
WildLife
Com um investimento inicial de US$ 100, a então Top Free Games foi fundada em 2011, pelos irmão Victor e Arthur Lazarte, tornando-se unicórnio em dezembro de 2019, já como Wildlife. A empresa atua no setor de games para celular, criando jogos gratuitos, como o Sniper 3D. Seu principal faturamento, porém, vem das microtransações dentro dos games.
Loggi
Em junho de 2019, após um aporte de US$ 150 milhões do Softbank e da Microsoft, a Loft se tornou o quinto unicórnio do país. A empresa criou uma rede de logística para entregas por meio de um sistema completamente online, que atende desde e-commerces até pessoas físicas. Hoje, é responsável pelas entregas de muitas das maiores lojas online do país.
Gympass
Oferecendo um plano de “assinatura de academias e atividades físicas” no meio corporativo, a Gympass alcançou, em junho de 2019, o status mítico de unicórnio, após receber um aporte de U$ 300 milhões. Atualmente, sua sede fica em Nova Iorque, e ela está presente em 14 países.
Loft
Inaugurando as unicórnios nacionais de 2020, a Loft alcançou, em janeiro, o marco de unicórnio; menos de 1 ano e meio após sua fundação, que foi em agosto de 2018. Criada por Mate Pencz e Florian Hagenbuch, essa empresa atua no mercado de imóveis, participando das etapas de compra, reforma e venda de apartamentos.
Stone
Fundada em 2012 por André Street, a Stone conquistou um espaço no até então restrito setor de meios de pagamento, mais especificamente, maquininhas de cartão. Uma particularidade é que seu status de unicórnio foi conquistado após abrir o capital na bolsa de Nova Iorque, em 2018.
PagSeguro
Este é um caso controverso, uma vez que, até pouco tempo atrás, a PagSeguro não era uma organização independente, pois atuava sob o comando da UOL, o que, portanto, não a caracterizaria como startup. No entanto, se considerada, ela foi a segunda empresa do país a se tornar unicórnio, em janeiro de 2018, após abrir seu capital na bolsa de valores de Nova Iorque, atuando no setor de meios de pagamento.
Frete.com
A startup liderada por Federico Vega, usa tecnologia para otimizar a relação entre caminhoneiros e empresas de transporte, diminuindo a burocracia e gerando economia para todos envolvidos no serviço, buscando cada vez mais integrar melhor todo o ecossistema. A empresa foi criada com a junção da CargoX com a FreteBras e FretePago, conseguindo chegar à marca de US$1bi em 2021.
Unico
A empresa de Diego Martins teve o aporte de R$ 625 milhões e se tornou unicórnio apostando no desenvolvimento de novas tecnologias. Se tornou assim, a pioneira em autenticar e proteger identidades no mundo digital.
Creditas
Creditas foi avaliada em US$ 1,75 bi e se tornou em 2021, uma startup unicórnio. O objetivo da empresa de Sergio Furio, é garantir o progresso financeiro de créditos pessoais através de uma plataforma online de crédito.
CloudWalk
Seu fundador, Luis Silva criou a CloudWalk em 2013 com o objetivo de ser uma empresa de pagamento brasileira inclusiva, empoderando empreendedores por meio da tecnologia (a maquininha InfinitePay). Em 2021, chegou à marca de uma startup unicórnio, e hoje é avaliada em US$ 2,15 bilhões.
Hotmart
Com um aporte de R$ 735 milhões, a Hotmart entrou para a lista de startups unicórnios em 2021, sendo a empresa uma plataforma digital que possibilitou a entrada de conteúdos digitais.
Facily
A Facility alcançou a marca de US$ 1 bilhão de dólares de valoração, após três anos de sua fundação.
A empresa tem o objetivo de fornecer itens para a população mais carente, com frete grátis e pagamento facilitado, através do aplicativo que oferece preços de produtos no atacado.
MadeiraMadeira
Varejista do setor de móveis e decoração, a startup fundada em 2009 por Robson Privado e os irmãos Daniel e Marcelo, levou o aporte de US$ 190 milhões em 2021.
Olist
Oferecendo a estrada de lojistas de todos os tamanhos nos principais e-commerces, a Olist, criada por Tiago Dalvi em 2015, levantou no ano de 2021, US$ 186 milhões, se tornando mais uma empresa brasileira a se tornar unicórnio.
Merama
Em um ano de fundação, e criada durante a pandemia, Merama, que investe em lojas de marketplaces, comprando participações em lojas para impulsionar vendas no varejo digital, chegou ao patamar de unicórnio brasileiro também em 2021.
Vtex
A plataforma que reúne comércio, marketplace e gerenciamento de pedidos com integração em todos os canais, recebeu um aporte de US$ 225 milhões em 2021.
Mercado Bitcoin
Em 2021, o Mercado Bitcoin, criado em 2013, se tornou o primeiro unicórnio atuando com criptomoedas no Brasil, recebendo o aporte de US$ 200 milhões.
Neon
Já em 2022, a Neon foi a mais nova startup a conquistar o marco. Foi a primeira conta digital do Brasil, criada em 2016 com 15 milhões de clientes.
Características das startups unicórnios
Tornar-se unicórnio não é tarefa fácil. Mas como algumas startups conseguem se diferenciar das outras e alcançar esse marco? O que elas têm de especial? Existem algumas características comuns que contribuem para tal.
As semelhanças que quase todas possuem
Inovação disruptiva
Quando o assunto é quebrar barreiras, as startups unicórnios dominam. Essas empresas tipicamente propõem soluções inovadoras em seu segmento. A Uber, por exemplo, revolucionou a forma de solicitar transporte privado.
Pioneirismo
Propor uma solução inovadora e ser pioneiro são características que caminham lado a lado. Mais do que sair na frente, ser unicórnio exige constantes atualizações e aprimoramentos para manter-se no primeiro lugar.
Tecnologia
É comum acreditar que startups unicórnios se limitam a empresas de software, o que é compreensível, pois esse tipo de produto representa 87% da totalidade no universo dos unicórnios. Apesar de existirem outros tipos, é fato que quase todas essas startups ascenderam por meio de uma mudança de paradigma tecnológico. O iFood, por exemplo, permite solicitar uma refeição com alguns simples toques na tela.
Foco no consumidor
Grande parte das unicórnios visam atender ao consumidor final, atuando, então, no mercado B2C. Este modelo possibilita um crescimento acelerado, porém exige mais investimentos do que o B2B, uma vez que o custo de aquisição do cliente (CAC) é alto. O B2C ainda é maioria entre as mitológicas, mas aquelas que não conseguem se manter nesse modelo de negócio, atuam no B2B.
Escalabilidade
Esta é uma característica comum a startups em geral, não se restringindo às unicórnios. Ser escalável é fundamental para alcançar um grande porte. É a escalabilidade que permitirá a expansão significativa no número de clientes, usuários e de faturamento, sem ter um aumento proporcional com os custos.
Mais de um fundador
Em geral, startups unicórnio são criadas por mais de um fundador, com uma média de 3,3 por empresa, no Brasil. Para se ter ideia, das 39 primeiras apontadas por Aileen Lee, como dissemos no início deste artigo, 35 possuíam mais de um fundador, os quais, inclusive, eram conhecidos de anos.
O perfil dos fundadores brasileiros
Mais do que saber de quantos fundadores é feita uma Unicórnio, é interessante conhecer as características dessas pessoas, capazes de criar empresas tão diferenciadas.
No Brasil, esse meio ainda tem um forte predomínio masculino, com mais de 90% dos fundadores sendo homens. São exceção as empresas Nubank e Loft, com Cristina Junqueira e Mariana Paixão em seu time, respectivamente.
Da mesma forma, a Universidade de São Paulo (USP), exerce um papel bastante relevante no país, sendo responsável pela graduação de grande parte desses fundadores, totalizando 13 ex-alunos entre eles.
Investimentos e mais investimentos
Um dos principais desafios para qualquer empresa que almeja expansão é levantar capital suficiente para isso. No caso das Unicórnios, em que esse crescimento acontece de forma exponencial, essa demanda é ainda maior.
Dessa forma, no início, não necessariamente uma Unicórnio consegue suprir seus gastos. Por isso, para conquistar o status mitológico, é preciso de investidores; investidores estes, que precisam estar dispostos a arriscar seu capital, caracterizando o que chamamos de venture capital, ou seja, injetar grandes quantias de dinheiro em startups, com o objetivo de fazê-las crescer aceleradamente e obter um retorno significativo.
É comum que isso venha de fundos de capital, dentre os quais o Softbank é um dos que se destacam entre os investimentos feitos em Unicórnios – e aspirantes – brasileiros. Responsável pelos aportes decisivos de 6 startups no país, sua participação se destaca por rodadas que movimentaram cerca de US$ 1,5bi.
A disputa começou. Quem será a próxima startup unicórnio brasileiro?
O mercado está em constante movimento. Não precisamos ir muito longe para perceber que, 3 décadas atrás, por exemplo, o auge eram as montadoras e petrolíferas. Hoje, quem lidera a economia mundial são as gigantes da tecnologia.
Sendo assim, considerando o viés tecnológico das startups unicórnios, pode-se dizer que o cenário é favorável. Dentre tantas aspirantes, quais estão em vantagem?
Setores mais promissores das startups
Até aqui, nosso país conta com setores variados, a começar pelas fintechs, aplicativos de entregas e de mobilidade urbana, seguidos de soluções imobiliárias, em educação e até mesmo saúde.
Além desses, outros segmentos têm se despontado, como a proptech healthtech Dr.Consulta. No entanto, as Fintechs e Adtechs ainda são os setores mais promissores para somarem na lista de novos Unicórnios..
Uma dose de realidade
A esta altura, você já sabe que, para alcançar o marco de US$ 1 bilhão de valuation, diversas startups unicórnios dependem de investimentos privados, certo? Agora pensemos no cenário atual.
O mundo todo enfrentou uma pandemia, cujas consequências foram avassaladoras e repercutiram por um longo período, impactando, sem dúvidas, na economia. Portanto, trata-se de uma condição pouco favorável para investidores arriscarem-se em grandes aportes.
Além disso, algumas dessas startups sequer geram lucro. Considerando o conceito Darwinista de que sobrevive aquele que melhor se adapta à mudança, os negócios iniciantes terão de se transformar em um animal mais parecido com o camelo: seres reais, resilientes, que, desde o início, lutam para sobreviver – e de forma independente.
O novo rumo para as startups em 2022
Com a crescente expansão de startups desde 2016, era de se esperar que em algum momento houvesse alguma queda. Os números de startups que tiveram queda após a grande inflação que acometeu muitos locais após a pandemia e o cenário de instabilidade na economia global em 2022.
Contudo, apesar da pequena queda pós-pandêmica das startups unicórnio, os números cresceram. Isso se dá a oportunidade de inovações e produtos para novos consumidores pós-pandemia. Graças aos avanços da tecnologia e a uma economia global, que apesar de estar um pouco instável, está mais interconectada do que nunca, veremos mais empresas alcançarem avaliações de bilhões de dólares em períodos mais curtos de tempo.
Conclusão
Nos adaptamos a uma “cultura” de cultivar e admirar os unicórnios. De fato, em um momento – inicial – eles foram raros. Entretanto, hoje, já temos mais de 1.070 startups desse tipo espalhadas pelo mundo.
A questão é quando o “unicórnio” passa a ser o objetivo, quando deveria ser consequência. Está tudo bem almejar o tão sonhado US$ 1 bilhão, mas independente se sua empresa será classificada como “Camelo” ou “Unicórnio”, tenha seus objetivos claros em resultado e retorno. Não busque apenas uma imagem. Construa negócios, não fantasias.